27.7.09

Epitáfio

Obviamente não é a primeira vez que acontece.
Mas mesmo sendo tão semelhante, dessa vez foi diferente.
Tive mesmo a impressão que tudo daria certo, que finalmente tinha encontrado um porto seguro e que as coisas seriam melhores do que sepre imaginei. Bom, me enganei. Pra variar.
Só que dessa vez não foi uma coisa platônica, e por alguns momentos eu pude realmente sentir que ela também queria o mesmo. Diga ela o que quiser, ela desejou que isso desse certo. Mas a nuvem negra que eu sou (ou que me acompanha) interferiu novamente.

No entanto, as consequências desta "saga" serão completamente diferentes das que vinham acontecendo. Não me fecharei. Não abandonarei.
O vazio que me preenche agora impede que eu seja tão racional ou cruel.
Me sinto só. E, pra mim, pior do que nunca ter tido, é ter perdido. Está bem mais escuro que antes e bem mais triste também.
Eu sonhei muito tempo com reciprocidade. E tive. E perdi.

Morreu domingo, dia 26 de julho de 2009, o Lobo, sua misantropia e sua esperança. Nas pessoas, nos sentimentos e principalmente nele. Não sei como ficará o mundo sem ele, mas este blog será fechado devido à falta de autores. Menos um blog na internet. A concorrência agradece.

As últimas palavras agonizantes foram proferidas. Ozzy, sua vez:

I feel unhappy, I feel so sad
I've lost the best friend, that I ever had.
She was my woman, I love her so.
But it's too late now, I've let her go.

I'm going through changes.
I'm going through changes.

We shared the years, we shared each day.
In love together, we found a way.
But soon the world, had it's evil way.
My heart was blinded, love went astray.

I'm going through changes.
I'm going through changes.

It took so long, to realize.
And I can still hear her last goodbyes.
Now all my days, are filled with tears.
Wish I could go back, and change these years.

I'm going through changes.
I'm going through changes.

21.7.09

Paralelos Divergentes

Meu amor,

Olho para a lágrima manchando sua maquiagem e descubro que, diferente da minha habitual prepotência, não sei de nada. Não sei as respostas e tampouco as perguntas. Tento ao máximo me distanciar, seguir em frente, racionalizar, mas não consigo. Pois sei que o tempo é irrefutável e que por mais que eu esteja consciente de nossa efemeridade ainda assim não consigo evitar de torcer pela eternidade. Por enquanto somos apenas brilhos, vislumbres fugidios nessa contramão autoimposta. Mas que não se ofuscam. Que são aconchegantes como aquele abraço, com nossos suores como uma fina cola que nos une mas não nos prende. Não o suficiente. Não tanto quanto gostaríamos.

Sabemos que acontecerá. Não temos resposta alguma, exceto essa. Sabemos que não interessa o quanto nossos mundos são divergentes, sabemos que uma hora ou outra teremos que aceitar a inevitabilidade da união de nossos destinos. Olha pra mim agora. Em meus olhos. Não chora, por favor. Eu te entendo. Eu te aceito como você é. Da mesma maneira que você me aceita. Nosso grande problema não é aceitarmos um ao outro. É aceitarmos a nós mesmos.

Enquanto isso não acontece eu espero, sozinho entre os lençóis frios destes dias isolados. Espero por sua companhia, por seu sorriso de felicidade sem barreiras conscientes ou não. Espero, fiel demais às suas convicções, para sair e ir te buscar. Projetando lágrimas que maculam seu rosto imaculável de modo a não assumir as minhas próprias.

Pois essa vida, essa sincronia, essa simbiose ainda é nosso segredo. Só nosso, guardado num canto exageradamente carinhoso em nosso peito. Um canto que não conseguimos ignorar. Apenas aguardando que essa lágrima constante em nossos rostos um dia seque e que possamos gritar a quem quiser ouvir que nosso segredo já não existe mais. Que ele é uma realidade.

A nossa realidade.

8.7.09

Is This Love?

I find I spend my time waiting on your call
How can I tell you baby my back's against the wall
I need you by my side to tell me it's all right
'Cause I don't think I can take it anymore

Is this love that I'm feeling?
Is this the love that I've been searching for?
Is this love or am I dreaming?
This must be love
'Cause it's really got a hold on me
A hold on me

Can't stop the feeling
I've been this way before
But with you I've found the key to open any door
I can feel my love for you growing stronger day by day
And I can't wait to see you again
So I can hold you in my arms

Is this love that I'm feeling?
Is this the love that I've been searching for?
Is this love or am I dreaming?
This must be love
'Cause it's really got a hold on me
A hold on me
--
E sempre estarei ao seu lado.

5.7.09

3.7.09

Férias

Dra. Mar,


1º isto:

















Depois isto:


20.6.09

Psicohomicídio

Dra. Mar,

Eu sou mau. Eu sou perverso. Eu sou perversamente mau e maleficamente perverso. E a senhora bem sabe. Aliás, a senhora sabe que fica difícil ir às consultas, então pare com essa mania de ficar ligando e me cobrando, sente o seu traseiro fétido na sua poltrona carcumida e leia essa bosta de blog se ainda quiser acompanhar. Se não quiser, foda-se. E não venha me pedir para atualizá-lo diariamente. Eu tenho mais o que fazer!

--

- Bom?

Bom? Mais que bom. Perfeito. Mais que perfeito!

- Perfeito demais pra ser realidade?

O que ele quer dizer com isso? Nada é perfeito demais pra ser realidade depois de se tornar realidade. Por mais irreal e idealizado que algo possa ser, depois de realizado é algo alcançável. É passado. História. Realidade.

- Nem sempre. A realidade é subjetiva.

Isso quer dizer que ele não achou tão bom? Que ele está com dúvidas?

- Eu não. Você que está. Eu já estou decidido.

Por que é sempre assim? Por que sempre me envolvo com os malucos? Por que não posso ter uma vida normal como qualquer outra?

- Porque você é bidimensional. Restrita. Limitada. É uma criaturinha medíocre e fadada a um destino prosaico e sem grandes conseqüências para a humanidade. Você é simplesmente uma bolha no oceano. Um nada cheio de nada. E sabe disso.

Sei? Não sei mais nada. Que papo é esse, meu Deus? Estava tudo tão perfeito, tão idílico, tão ideal! Depois de tanto procurar, quebrar a cara, me decepcionar, eu finalmente encontro o homem perfeito. E agora, depois de tudo o que passamos juntos, ele vem com esse papo. É demais pra minha cabeça. É demais pra mim. Não agüento mais. Acho que vou explodir!

- Quer suas pílulas?

Quero. Dá aqui esse frasco. Vou tomar todas. Na sua frente. Vou morrer de uma forma grotesca para que você não possa mais me machucar assim. Nem a mim nem a nenhuma outra. Quem você pensa que é pra falar assim com uma mulher? Uma mulher como eu! Que absurdo.

- Desce melhor com uísque. Toma.

Dá aqui essa porra! Você vai ver, seu puto. Vou estrebuchar e vomitar em cima de você. Vou morrer em seus braços de uma maneira que você nunca vai esquecer. Ah, se vou. E eu achando que tinha encontrado o homem perfeito, aquele que finalmente abriria meu coração e com quem eu passaria o resto da minha vida.

- E estou realizando seu desejo.

Está? Está. Não, não posso terminar assim. Não posso morrer agora. Preciso vomitar. Me leva prum hospital. Isso não pode estar acontecendo. Parece um roteiro de filme ruim. Não tem sentido. Você é um personagem de um filme ruim?

- Não, eu não sou.

Ufa!

- Você é quem é.

Levanta a cabeça. Abre os olhos. Como é? Como é? Você está louco? Louco, louco, eu só conheço loucos. Será que a louca sou eu?

- Não. Não é louca. Só é pouco desenvolvida. Uma personagem ruim, só isso. Não quero criar nada para você. Não quero usar você. Estou descartando-a. Apagando sua participação ridícula em minha trama. Você não presta nem como alívio cômico. E nada do que eu possa fazer pode melhorá-la. Nada. Como eu disse, bidimensional, fútil, esquecível. Está me ouvindo ainda?Na...

Estou. Isso não pode ser verdade. Não, não. Eu sou interessante. Mereço pelo menos uma ponta na sua trama. Escreva sobre mim? Por favor? Qualquer coisa. Qualquer uma...

- Eu acabei de fazê-lo.

--

Dra., será que isso pode ser contabilizado como uma vítima?

13.6.09

E Agora?

Dra. Mar,

Minha gata fugiu.

Não, não estou preocupado. Nunca me importei com ela mesmo. Mas agora não sei o que devo fazer com dois sacos de ração que tenho aqui.

Só espero que a morte dela seja uma coisa rápida.
Odiaria vê-la sofrer pelas mãos de alguem que não fosse eu.

12.6.09

Carapaça

Dra. Mar,

peço relutantemente desculpas pelo texto incoerente da madrugada passada. Foi escrito sob o efeito de psicotrópicos legais e ilegais misturados a um filme sobre anões e o dia dos namorados.

Tá, pode fechar a boca agora. Seu queixo deve ter caído no umbigo, né? Limpa a baba. A senhora já não é nada sexy, babando então chega a me dar náusea.

A senhora bem sabe que não sou ligado a datas ou tradições. Estou pouco me fodendo para páscoa, natal ou qualquer feriado de merda como estes. Só curto a folga. É um domingo de brinde, nada mais. Sem significados ou espíritos presentes, passados ou, deus me livre, futuros. Também não ligo a mínima para feriados comerciais. Dia das mães, pais, crianças, sogras, papagaio, lontra, orgasmo...

Mas não o dia dos namorados.

Não no sentido que meus detratores devem estar resmungando resignados neste momento. Não no senso romântico. Sei lá. Me faz mal. Se tenho com quem passar esse dia eu simplesmente desapareço. Se não tenho me afundo num anonimato seguro em minha toca hermética. Telefone fora do gancho, internet desconectada, celular morto. Não quero ninguém, não desejo ninguém. Só quero ficar sozinho e celebrar minha liberdade egoísta.

Às vezes, isso enche o saco.
. _______________________________________________ .

Eu sentei no canto da cama. Era madrugada. Estava quente. Estava sem roupa.

A janela estava aberta, e o ar frio da noite poluída invadia minha privacidade. Gostaria de dizer que apenas as estrelas e a lua haviam sido as testemunhas de minha nudez, mas estaria sendo desnecessariamente poético. Mesmo porque não havia lua nem estrelas no céu poluído. Não, ninguém havia presenciado meu despudoramento noturno. Nem mesmo eu, que na verdade já esquecia o sonho como se ele fosse apenas uma névoa de bituca em meu cérebro. Não que fizesse diferença, era mais um sonho, como tantos outros.

Meu corpo estava amortecido o suficiente para que eu não pensasse nele. Minha boca entreaberta não dizia palavra. Estava seca como minha alma perdida. Meus olhos estavam tão remelentos que era uma esforço mantê-los abertos, mas em meu torpor não me importei. Era um cadáver insone.

Sem razão aparente, caí num choro agoniado. Apenas meu rosto se franziu com o irromper das lágrimas. O corpo permaneceu imóvel, exceto pelos espasmos pulmonares necessários para emitir gemidos angustiados. Não queria cobrir meu rosto. Não tinha vergonha de minhas lágrimas, pelo contrário, queria espalhá-las ao mundo, como uma chuva de canivetes agridoces. Queria que cada alma, cada condenado, cada filho da puta desse mundo recebesse uma gota dela. Que as ruas se inundassem de minha tristeza sem nome ou razão, mas nem mesmo consegui inundar meu próprio colo.

As lágrimas secaram, mas eu insisti no choro seco. Com a unha do polegar apertei a pele branca de minha coxa, até que ela se rompesse e o sangue fluísse. A dor foi excruciante, maldita, divina, libertadora. As lágrimas voltaram a correr por alguns segundos, mais pela dor física do que emocional, mas secaram novamente logo em seguida.

Espalhei o sangue que escorria pela perna. Era pouco, mas suficiente para tingir minha pele com um tom inicialmente róseo, e depois escarlate coagulado. Com a mão ainda suja usei-o como tinta para uma máscara de palhaço. Pintei cruzes sobre meus olhos, e um grande sorriso sangrento emoldurando minha boca.

O sangue parou de jorrar pela ferida. Era superficial e insignificante como minha angústia sem objetivo. Ergui-me.

Deixei o vento noturno lamber meu corpo, secando suor, sangue e lágrimas numa casca impenetrável, uma armadura biológica para quaisquer males que venham de fora. Era minha concha, minha carapaça, minha crisálida com cara de palhaço. E eu era um Louva a Deus ateu, esperando a decapitação pós-coito que nunca virá.
. __________________________________________ .

Doutora, eu odeio o dia dos namorados.

Retificando: eu odeio o dia dos namorados SEM ELA.

Catarse

Dra. Mar,

quando o barato termina, o cigarro se apaga e o uísque seca no fundo do copo a gente saca.

Simplesmente saca.

Saca que somos descartáveis. Que somos um acúmulo casual de células fadadas à dissociação. À reassociação. À dissolução.

Sem solução.

É isso.

Por enquanto.

Por não sei quanto.

Foda-se o que você pensa.

Neste momento sou eu contra o mundo.

E não sinto piedade do mundo.

8.6.09

Réquiem Antevisto

Dra. Mar,

Eu sou uma pessoa que só é afetada por constatações muito bem feitas. E muitas vezes eu só as encontro vindas das bocas de meus mestres. Esta é uma delas. E me fez pensar um bocado.

"Todo mundo um dia se decepciona. Mesmo quem se protege da cabeça aos pés um dia vê alguém se aproveitar de uma rachadura mínima na blindagem. Penetra sutilmente por aquele buraquinho e te encontra onde você é mais vulnerável. É neste momento que você percebe que não importa a força da armadura quando o interior ainda é mole.

Acontece. Dizem que para os felizardos acontece mais de uma vez, mas pergunte a opinião dos felizardos antes de chegar a alguma conclusão.

A gente sabe que é irracional, incoerente e, por que não, impossível. Mas é aí que a gente acredita mais. Que investe mais. E que comete o maior número de bobagens.

Não me arrependo de nenhuma decisão que tomei. Não me compreenda mal. Eu sabia onde estava me metendo desde que começamos. Sabia que a partir daquele momento meu padrão havia sido elevado. Só que mesmo sabendo como terminaria eu te incluí nesta trama. Fui egoísta, sim, mas qual apaixonado não o é?

O problema com a realidade é que ela é realista demais para ser invadida por fantasias. Mesmo as mais realistas. O inevitável chegou e agora preciso arrancar você de seu cantinho cativo em meu coração e colocá-la em seu novo lar em minha memória.

(Sim, o amor e a paixão nos tornam bregas)

Eu fico aqui. Com meu uísque, meu cigarro e meu baseado. Para beber, fumar e lembrar de você todo dia que a solidão te chamar e apenas o silêncio me responder. E para sentir aquilo que eu nunca quis sentir por você:

Sentir sua falta."

Isto serve para duas pessoas, mas com quase absoluta certeza vai especificamente para uma delas. Isto me levou a pensar profundamente sobre o rumo que minha vida está tomando e se vale realmente a pena o que estou fazendo. Eu não queria adimitir, mas quando a verdade é jogada na minha cara eu não tenho como me esconder, concorda?

Vale a pena ter começado algo que eu sei como vai acabar?

É inevitável. Sempre acontece. Não é agora que vai ser diferente. Eu queria que fosse, mas não é. Não é assim que a realidade funciona. Continuo nessa montanha-russa desgovernada? Acho que eu não tenho escolha alguma agora.

Relaxa e goza, Lobo.

E chora depois.

He's just the kind of man
You hear about
Who leaves his family for
An easy out
They never saw the signs
He never said a word
He couldn't take another day

Carry me to the shoreline
Bury me in the sand
Walk me across the water
And maybe you'll understand

Once the stone
You're crawling under
Is lifted off your shoulders
Once the cloud that's raining
Over your head disappears
The noise that you'll hear
Is the crashing down of hollow years

She's not the kind of girl
You hear about
She'll never want another
She'll never be without
She'll give you all the signs
She'll tell you everything
Then turn around and walk away...

5.6.09

Aprendendo a viver

The way your heart sounds makes all the difference
It's what decides if you'll endure the pain that we all feel
The way your heart beats makes all the difference
In learning to live
Spread before you is your soul
So forever hold the dreams within our hearts
Through nature's inflexible grace
She's teaching me to live...

Dra. Mar, mesmo que indiretamente, ela está me ensinando...

1.6.09

Arrotando Tutu

Dra. Mar,

a senhora bem sabe que não tenho e nunca tive pretensão nenhuma de ficar rico. Nenhum objetivo de angariar mais dinheiro que eu possa gastar. Sei bem de minhas capacidades econômicas e já a algum tempo assumi essa minha limitação. Sou pobre e sempre serei. Vivo numa casa modesta, ando de ônibus velho e fedido e me visto com roupas puídas e fora de moda (aliás, o que é moda?). Sou o que sou e não tenho vergonha nenhuma disso. Não tenho orgulho, mas tampouco tenho vergonha. Tenho o estilo condizente com os meus rendimentos e não mais que isso. Sou...

Ah, você entendeu!

O que EU não entendo é essa mania que o povo tem de aparentar mais grana do que realmente tem. Manja aquele negócio de comer tutu e arrotar caviar? Gastam tudo e um pouco mais apenas para ostentar o que não tem. Compram carrões em crediários gigantescos, apartamentos caríssimos com juros escorchantes, roupas de griffe pornograficamente caras, acessórios e balangandãs inúteis só para mostrar que são ricos. Quando não são. Mas não interessa o que se é. Interessa o que os outros acham que você é. A opinião alheia é mais importante que a própria. Realmente não consigo compreender.

Digo isso pois ontem eu estava voltando de um churrasco e, numa crise de bobeira, deu uma fome absurda. É, eu mais bebi que comi no churrasco (MUITO mais). Convenientemente estava passando ao lado de um McDonald's. Como estava com muita preguiça para cozinhar e mesmo tentando evitar a todo custo aquele lanche com gosto de feno, me aventurei porta a dentro. Na minha frente na fila, uma garota de, no máximo, uns 25 anos. Linda, toda arrumada e emperequetada. O braço esquerdo estava com ao menos umas 20 pulseiras com aparência de caras. O cabelo loiro indefectível, o que, num domingo a noite, é coisa rara de se ver. Rosto bem maquiado. Roupa impecável. Linda mesmo. Sério.

Mas como expliquei no primeiro parágrafo, tenho plena noção de meu estado atual e do que as pessoas pensam de mim. Sabia nesta primeira análise que uma mulher daquela só chegaria perto de mim se fosse pra dar esmola ou enxotar. Ou ignorar acintosamente. Aumentei o volume do mp4 até que o ruído quase estragasse completamente a música. A fila andou um pouco e chegou a vez da mini-perua-em-experiência fazer seu pedido. Fez. Forma de pagamento? A mão excepcionalmente manicurada entregou um cartão daqueles "platina" ou "diamante". Ela digitou a senha e ambos aguardamos. Meu estômago roncava. Cartão recusado. Deu outro. Mesmo ritual. Mesmo resultado. Mais um cartão, mais uma recusa. Outro! E mais um! Todos sumariamente recusados. O pessoal na fila começava a ficar impaciente. "Puta que os pariu" escapando por entre os dentes. Eu só observando enquanto a graça e a pose da vaquinha desapareciam aos poucos. Quando ela entregou um VALE-REFEIÇÃO vi que já não havia mais esperanças de redenção de sua pose. E pior: igualmente recusado!

Aí decidi interferir. Perguntei qual o motivo de tamanha demora. Ela engasgou ao tentar responder. O atendente ficou elegantemente mudo. Disparei: "Querida, se não tem como pagar, porque não sai fora? Tem gente com fome aqui querendo comer...". Ela nem se dignou a tentar responder. Sacou o celular e ligou pra alguém. "Sou eu, benhÊÊ. Estou no Mac e não estou conseguindo passar nenhum cartão. Já tentei. Esse também. TODOS! Juro! Não sei, espera", e se dirigiu ao atendente: "Moço, aceita cheque?". Até eu, na minha ignorância completa, sei que o MacDonald's não aceita cheques faz tempo. O desespero e os bravejos iam a mil.

Eu podia ter feito tanta coisa ruim, doutora. Tanta crueldade. Podia deixá-la como uma galinha d'angola numa montanha russa desgovernada se eu quisesse. Claro que podia. Mas ao invés disso simplesmente perguntei ao atendente quanto tinha saído a compra dela. "Dezessete e cinquenta". Saquei a carteira e paguei com uma nota de vinte. O cara não acreditou, mas confirmei com um gesto de cabeça. Vai nessa, pode cobrar. Me dá o troco.

Só aí que a perua-destronada percebeu o que estava acontecendo. Ela tentou dizer que não era pra eu fazer aquilo, que ela ia conseguir, essas coisas. Rejeitei magnanimamente seus argumentos com um sorriso. Ela não sabia onde enfiar a cara. Desligou o celular na cara do BenhÊÊ e me pediu o número de minha conta, que ela me pagaria aquilo amanhã mesmo, essas coisas. Recusei solenemente. Ao invés disso cheguei perto dela e soltei o golpe fatal:

- Relaxa, linda. Eu arroto tutu.

Voltei pro meu canto antes que ela conseguisse entender o que eu tinha dito. Duvido que algum dia entenda, mas tenho esperanças. Acabou pedindo pra viagem. Ela pegou sua sacola marrom e saiu. Fiz na sequência meu pedido e fui pra casa comer.

Garanto uma coisa: foi o melhor Big Mac da minha vida.

23.5.09

(I)Mortal

Eu estou tão cansado de ser reprimido por todos os meus medos infantis
E se você tiver que ir, por que apenas não vai?
Por que sua presença ainda permanece aqui? Isso nunca vai me deixar em paz?
Essas feridas parecem não cicatrizar...
Essa dor ainda é tão real...
Isso é simplesmente mais do que o tempo pode apagar.

Quando você chorou eu estava lá enxugando todas as suas lágrimas.
Quando você gritou eu lutei contra todos os seus medos.
Eu segurei a sua mão por todos esse tempo...mas você ainda tem tudo de mim.

Você costumava me cativar com sua luz ressonante, no entanto tudo ficou limitado pela vida que você deixou pra trás.
Seu rosto assombra meus parcos sonhos, me tornando apenas pesadelo e sua voz expulsou o pouco de sanidade que havia em mim.
Essas feridas não vão cicatrizar.
Essa dor...eu ainda a sinto.
Isso é uma coisa que o tempo não pode apagar.

Eu tentei com todas as forças dizer à mim mesmo que você se foi
E embora eu esteja com alguém, ainda tenho estado sozinho por todo esse tempo.

Quando você chorar eu ainda enxugarei todas as suas lágrimas.
Quando você gritar eu ainda lutarei contra todos os seus medos.
E segurarei sua mão quando você precisar.
Você ainda tem tudo de mim...

19.5.09

Madrugada desgraçada

Dra. Mar,

noite passada, após a habitual luta diária contra a insônia, consegui finalmente pregar os olhos às 2 da manhã. Televisão, computador, rádio, cérebro, tudo desligado. Deitei e fechei os olhos, pronto para encerrar mais um dia miserável igual a todos os outros.

Mas é claro que essa história não teria a menor graça se fosse apenas isso. Não, cara doutora, a desgraça é uma companhia teimosa e inconveniente. Poucos minutos após ter encostado o encéfalo cansado no travesseiro puído começo a sentir uma coceira chata no antebraço esquerdo. Não era uma simples coceirinha. Era uma daquelas. Inchou muito rápido. Enquanto ainda coçava a primeira veio a segunda picada. A terceira. A quarta. Era um ataque! Arremessei o cobertor longe, temendo pulgas, e comecei a me coçar inteiro, maldizendo a mim mesmo por não ter um pote de calamina ou algo que o valha por perto. Acendi a luz e descobri que o problema não eram pulgas, mas pernilongos. Um enxame deles! Corri para a área de serviço. Iria terminar a emboscada pernilonguífera com doses maciças de insecticida. Peguei o spray e, quando estava pronto para substituir toda a atmosfera de meu quarto em uma nuvem venenosa lembrei-me de minha gata. Queria matar mosquitos, mas não ela. Não ainda. Ela tem sua utilidade. Não sei bem qual, mas que tem alguma, isso tem.

Toca procurar a Nanda.

Encontrei-a embaixo do guarda-roupa, roncando de boca aberta. Sem muita paciência (lembre-se: eu estava me coçando inteiro) puxei-a e a coloquei no colo. Meu plano era simples: com a gata no colo eu passaria insecticida. Depois nos abrigaríamos no banheiro até a nuvem tóxica se dissipar. Simples assim.

Só esqueci de um simples detalhe: gatos e sprays não se dão exatamente muito bem juntos. Assim que apertei a válvula do insecticida e o primeiro tisss... se fez ouvir, a Nanda se transformou imediatamente num demônio da Tasmânia. É, igual ao desenho. Uma nuvem de garras, dentes e pêlos dilaceraram meu braço, peito e pescoço. Derrubei a lata e a gata ao mesmo tempo, berrando e sangrando. A lata rodopiou pelo chão até se esconder debaixo da cama. A Nanda se desmaterializou como por mágica. Acho que acordei a vizinhança inteira com os xingamentos. Fui no banheiro e estanquei o sangue o melhor que pude (com pedaços de papel higiênico e toalha, pois os bandêides tinham terminado). Com metade do corpo coberto de trapos higiênicos, saí em busca da maldita felina. Não para matá-la, como deveria, mas para prendê-la no banheiro. Fiquei imaginando os pernilongos vendo todo aquele sangue em mim e babando como moleques de rua ao verem uma pilha de crack. Mesmo assim levei absurdos 45 MINUTOS para conseguir capturá-la, tão arisca ela estava após o susto. Desgraçada. Eu que deveria estar assustado. Cão do nono círculo do inferno. Agarrei-a pelo cangote e prendi-a no box do chuveiro. Em seguida esvaziei a lata de insecticida no quarto inteiro e me tranquei no banheiro. Esperei lá por quase duas horas, até que o cheiro de veneno se dissipasse.

Saldo da bisonhice: só consegui deitar efetivamente já passava das 5 e meia da manhã.

Desliguei o despertador e usei as últimas ideias coerentes para inventar uma desculpa para faltar no trabalho hoje. Não consegui inventar nenhuma boa, mas dormi assim mesmo.

Acordei às 8 da manhã com a voz de minha mãe me dizendo: "Ei Lobo, não tem um pão aqui. Vai comprar!" Meia hora depois estava eu no supermercado, comprando pão como um zumbi. Peguei uma fila monstruosa para pagar a compra mirrada. Quem além de alguém completamente desesperado vai ao supermercado às 9 da manhã?! Ou o mundo está povoado por desesperados ou há poucas esperanças para a humanidade. Mas divago.

Voltei pra casa e já passava das 10. Entreguei o pacote e peguei minhas coisas, resignado a ter que ir trabalhar com pouco mais de 2 horas de sono mesmo, quando a mãe me pergunta:

- Lobo, a gata tá trancada no box por alguma razão? Ela tá miando que nem uma louca...

Putz, a gata! Resisti ao primeiro impulso de ir lá libertá-la e, olhando para as feridas em meu braço e lembrando da dor da noite anterior, sentenciei:

- Deixa ela lá. Ela merece. Se começar a desidratar liga o chuveiro e tá tudo certo.

Eu poderia enquadrar a expressão de minha mãe e olhar todo dia antes de ir pro trabalho. Clássico.

Se alguém da APA* ligar aí, você não me conhece, hein?

* Associação Protetora dos Animais

10.5.09

Sem Cortes

O sangue espirrou no asfalto e no tênis novo de Amadeu, fazendo-o xingar tão alto que ofendeu o evangélico Baltazar, que sempre teve orgulho do nome bíblico, apesar de não saber absolutamente nada a respeito do tal personagem, da mesma maneira que Carine também não o conhecia, mas sentia o cheiro acre do suor exalado em suas pregações no meio da praça, torcendo o nariz da maneira que Daniel mais gostava, daquele jeito de menina sapeca que as sardas ressaltavam e o faziam recordar da paixão juvenil por Eleanor, sua primeira professora que, por pura coincidência narrativa, passava ao largo naquele exato instante sem reconhecer os ex-alunos, desviando-se quase na última hora de Felipe, cuja pressa não permitia que perdesse tempo com bobagens, o que o fez trombar com Gisele, assustando-a de tal maneira que seus gritos por um breve instante retiraram Hugo da meditação contemplativa das pombas da praça e o fizeram pensar novamente em Ivana, sua mulher, que havia marcado o encontro com ele lá, na saída do escritório, mas que, graças a Juarez, o chefe da repartição que saía naquele momento da garagem com seu sedã preto, se atrasara, obrigando seu Lima a adiar o fechamento do prédio e a afastar o sono de doze horas de pé com mais uma xícara de café que dona Maria, a copeira, havia salvado da última garrafa térmica da reunião da diretoria, para irritação de sua supervisora, a famigerada e temida Neide, relações pública e torturadora amadora, descontando nos pobres incautos a frustração de sua paixão não correspondida pelo diretor de aquisições, o Dr. Otacílio, que não era doutor em nada, mas gostava de ser chamado desta maneira, pois acreditava que inspirava respeito, algo que seu funcionário e puxa-saco de plantão, o Plínio, fazia questão de ressaltar, para ódio e frustração de Quênia, cujas últimas promoções foram sumariamente rejeitadas por conta do tal puxa-saco e de seu escudeiro, o fofoqueiro Rodrigo, que a havia flagrado aos beijos com Saulo na saída de emergência e ameaçado contar tudo para a namorada traída, Tânia, que por acaso também era a estagiária predileta de Ubirajara, o vice-presidente de tecnologia que estava tão entretido ao telefone com Veridiana, sua esposa, tentando convencê-la de que não conhecia nenhum nome que começava com a letra X para dar a seu bebê que nem notou quando Zé, analista de sistemas e deprimido, se atirou pela janela, espatifando-se como um melão maduro na calçada.
. _______________________________________________ .

Apresento-lhe, doutora, uma coisa pequena que eu escrevo em meu tempo ocioso, que a senhora tanto deseja ver.
É um texto reciclado. Antigo, apócrifo e anormal. Como eu.

Espero que odeie.

9.5.09

Cacos

Dra. Mar,

é triste olhar no espelho e ver meu rosto.

Desagradável.

É como se cada ruga, cada reentrância, cada cicatriz, cada fio de cabelo branco em minha têmpora contasse uma história melodramaticamente trágica. Uma história que nunca tem final feliz. E que fica ainda pior ao descobrir que tudo é por minha culpa. Por culpa de minha inação, de minha falta de culhão para tomar a decisão certa na hora certa. Cada marca profunda na minha pele espelha um vacilo, uma resolução covarde, uma cagada em minha vida.

Por que precisamos nos tornar escravos de nossas decisões? Por que nunca aparece alguém e te diz que esta ou aquela decisão específica vai esmerdear o resto de sua vida? Seria tão mais fácil acreditar que existe um velho barbudo sentado num cúmulo de algodão e que planeja a vida de cada um a seu bel prazer. Expiava a culpa por uma atitude equivocada que culminou em uma hecatombe incontrolável.

Mas não existe o tal velhinho. E a gente tem que aprender a lidar com as conseqüências das decisões que nossos cérebros limitados tomam. Por mais que doa, por mais que machuque. E não tem jeito, sempre que tomamos uma decisão crucial na vida ficamos imaginando como seria se tomássemos outra direção. Será que fizemos o certo? Como podemos ter certeza de que a merda que estamos afundando neste momento não é melhor do que uma possível caganeira na outra opção?

E como viver com essa dúvida?

No espelho estilhaçado meu rosto parece uma caricatura desenhada por um Picasso bêbado.

E os cacos fincados em minhas falanges doem.

Mas não mais do que minhas entranhas.

Merda de vida.

Merda.

7.5.09

Ponto Final

Dra. Mar,

eu desisto.

Desisto de tentar. Qualquer coisa. De buscar e se decepcionar. De fugir e não conseguir se esconder. De procurar soluções e se frustrar ao descobrir que elas de nada servem ou apenas servem para gerar mais problemas.

Desisto da humanidade. A humanidade está fadada ao fracasso inexorável. Por mais que teimemos em prolongar nossa permanência nefasta no planeta um dia perceberemos que o mundo estará bem melhor sem nós. Sim, doutora, eu me incluo nessa turba. E te incluo. A todos nós. Você também, meu caríssimo leitor ignóbil que vem aqui sendo ou não convidado. Sua mãe também. Toda sua família. E a minha. E daí?

Foda-se quem jogou a porra da menina pela janela. Se foi o pai, a madrasta, o Peter Pan ou o espírito santo. Foda-se o destino do padre-voador-bisonho e suas bexigas multicoloridas. Foda-se a terra que treme e a falta de assunto da TV aberta.

Desisto também de tentar me matar, seja rápida ou lentamente. Apenas sigo em frente estagnado. Desisto de sentir raiva ou tristeza ou mesmo qualquer sinal de alegria. De procurar sentido numa realidade niilista. De mijar dentro do balde. De respeitar qualquer lei. De batalhar dia a dia tentando prolongar minha existência medíocre. De ajudar os outros a prolongarem suas.

Não, doutora. Não desisto da vida. Desisto de me preocupar em existir.

Foda-se se parece "emo" ou qualquer outra merda rotulada por cabecinhas limítrofes. Pensem a porra que quiserem. Chafurdem em seus raciocínios lógicos. Simplesmente cansei. Não tento mais nada. Sou um subproduto do mero acaso e é com isso que arrastarei meus dias. Chega de vitórias mesquinhas e declarações de renda. De contas infinitas e ganhos limitados. De psicanalistas sem respostas e malucos sem perguntas. De idiotas que não entendem piadas ou que as levam ao pé da letra.

Eu abraço a insanidade e beijo-a de língua.

Pouco importa.

Eu desisto.

E ponto final.

Estou namorando.

1.5.09

Bola de pulgas

Dra. Mar,

dia do trabalho e, como estamos no Brasil, ninguém trabalha. Nem eu. Ainda bem.
Adoro esse país.
Mentira. Deslavada.
A senhora consulta hoje, doutora? Não, não venha querer me dizer que ouvir lamentações de pessoas amarguradas e depois tirar conclusões que elas mesmas chegariam após duas doses de uísque é trabalho.

Mas não vim falar de trabalho. Ou do dia dele. Ou da falta dele. Vim falar de gatos.

Felinos de quatro patas que miam, ronronam e dormem. Muito. Cuspidores de bolas de pelo, culpa das lambidas dadas no corpo inteiro. É, a maioria odeia banho. Não, não temos isso em comum.
Odeio gatos. Desde pequeno. É uma coisa instintiva, sem explicação, irracional e sem qualquer base de fundamentação lógica. Até os matava quando mais novo. Sem motivo. Explodia-lhes com bombas de São João. Bons tempos. Talvez tenha sido um cachorro em outra vida. Não, doutora, eu não acredito em vidas passadas. Mas isso não quer dizer que não exista. Além do mais, a ideia de que estamos fadados à total extinção e extirpação de nossos seres é um tanto sombria e desalentadora. Claro que isso cabe a mim, mas não sou a única pessoa no mundo. Quem dera. Mas divago.

Bem, no último post eu saí para comprar um. E comprei. Mais ou menos.
Não sei porque. Apenas comprei. Algo inconsciente. Sem explicação, irracional e sem qualquer base de fundamentação lógica.
Saí com esse objetivo em mente. Cheguei até a me questionar. "Mas eu odeio gatos. Porque não um cachorro? Um papagaio? Um porquinho-da-índia? Uma colônia de formigas? Uma piranha assassina?". Não. Tinha de ser um gato. Talvez para acabar com essa raiva primitiva. A senhora me apresenta suas teorias sobre o assunto depois (que eu farei questão de ignorar sumariamente). Cheguei ao pet shop. Quanto custa um gato? 200 reais por uma bola de pulgas que só dorme? O pelo é de ouro ou ele caga diamante? Não, esquece, eu acho um na rua. Gato é o que não falta.

Lembrei de um amigo que tinha 7 gatos em casa. Nunca passei mais de 15 minutos naquela casa. Quem sabe ele queria se desfazer de algum. Dei sorte. Ou não. Uma gata tinha dado cria há uns seis meses e ele ainda estava dando os gatinhos. Peguei um. Uma, na verdade. Era uma gata.
Caixa de sapato esburacada. Instruções que eu nunca ia seguir. Rumei para casa. Chegando, interrogações e exclamações. "Que caixa é essa? Um gato? Eu não quero esse bicho na minha casa! Vai estragar tudo, cagar em tudo".
Consegui convencer que eu ia cuidar de tudo e que a maior parte do tempo ele ia ficar no quarto. O que eu tô fazendo por um gato? Devia era explodir a cabeça dele como fiz com tantos outros. Calma, tudo tem uma razão.
Entrei no quarto. Abri a caixa. Aquilo me olha. Mia. Precisa de um nome.
Princesa? Nossa, meu deus, não! Chamem a Reese Whiterspon!
Jack? Melhor não. Nome de homem pode dar problema um dia. Não sei qual, mas pode dar.
Léia? Não. Hobbys e gatos não devem se misturar.
Vodka? Bem...não, melhor não. Já bebo sem nada pra me lembrar, ainda mais chamando todo o dia.
Cameron? Thirteen? Cudy? Esse seriado tá me afetando mesmo...
Emanuelle? Haha, ia ser hilário gritar isso pela casa: "ô rainha da galáxia, vem cá!". Melhor não.
Nesse momento a gata coçou o olho com a parte de trás da pata. Tava com sono. Foi igualzinha a...
Será que...? Isso é apelação demais... Aff, vai ter que ser.

Vai ser Nanda.

Eu sei, eu sou doente. Mas talvez me ajude. Pensa bem, doutora, ou eu curo meu ódio por gatos ou eu passo a odiar outra coisa.
Eu falei talvez, doutora, talvez...

21.4.09

Wicked Memories - Epilogue - Question

Abriu os olhos lentamente. Estava cansado. Mas não com sono. Olhou no relógio. 6:28. Dormiu pouco. Mas dormiu. Queria ter dormido mais. Bem mais.
Lembrava de tudo perfeitamente. E sabia que continuaria lembrando.
Tudo podia ter terminado. Deveria ter terminado. Mas ele nunca consegue aquilo que realmente quer. Nunca.

Estava de volta. Ele. As lembranças. Ela.
Então era isso. Tinha que resolver.
"É menos mal viver triste ou morrer disso?"
Não tinha mais como. Iria resolver.
Podia viver. Mas não tinha certeza se ainda tinha forças para aguentar. Ou coragem para ver o sonho se tornando realidade.
Podia morrer. Mas não tinha certeza se queria por a prova suas crenças. E descrenças.

Saiu. Foi comprar mais remédios. Três caixas dessa vez.

E um gato.

20.4.09

Wicked Memories - Part 5 - Dreaming

Teve dois sonhos. O primeiro com ela.
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Estava sentado à margem do rio. Observava com o olhar triste. Ribeirinhos passavam em canoas e barcos. Admirava as garças. Livres. Sem preocupação.
Ouviu passos. Se virou. Era ela. Esboçava um sorriso.
Tenho que te falar uma coisa. Se sentou ao lado dele. Ele olhou para baixo. E rapidamente olhou pro céu. Não conseguia mais fitar seu reflexo.
Eu não te amo. Ele sabia. Mas eu tenho certeza que me amas. Ele também. E sei que é muito. Ela tinha razão. Pra variar. Eu gosto de você. Um pouco. Um pouco. E eu pensei, que se eu desse uma chance... Sim? ...talvez eu pudesse vir a gostar mais. Eu acabei tendo certeza que é muito difícil achar alguém que possa me amar tanto assim. Será...? Enfim, estou te dando uma chance. Não desperdiça. Ele a abraçou forte e desejou, rezou, que aquilo não fosse um sonho. E se fosse, que nunca acord...
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Entreabriu um olho e voltou a dormir. O segundo sonho era igual a outro que já havia tido uma vez. Mas com algo diferente.
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Estava sentado. O cômodo era totalmente branco. E totalmente vazio. Sem portas ou janelas. Olhou pra frente. Vazio. Olhou pra trás. Vazio. Olhou pra frente de novo. Um espelho.
Se levantou e foi em direção à ele. Era um espelho comum. Apenas seu reflexo aparecia do outro lado. Não gostava dele. Fechou os olhos e virou o rosto. Sentiu vontade de abri-los. Ao fazê-lo, a sala já não era branca, mas negra. E apenas os contornos do espelho ainda eram visíveis. Mas no reflexo começou a distinguir uma mobília. E na penumbra pode ver os contornos de um homem. Ele segurava um copo de uísque. E abaixo de sua mão, um caderno. Não, não era um caderno, mas uma agenda. Marcava três nomes. Riscados. Um vento bateu e folheou a agenda. Em branco. Ao fundo tocava um blues. Conhecido. Melancólico. A noite se tornou mais clara e iluminou o rosto do homem, que sentava à poltrona. Era ele. Mas mais velho, como com 50 anos.

Um brinde!


E o que estamos comemorando?

Não é comemoração. É pesar.


Pelo quê?

O último se foi.


Morreu?

Não. Desistiu.


E o que está fazendo sozinho, no escuro?

Hahahaha...estou esperando...


O quê?

Pergunta errada.


Quem, então?

Você.
Sorriu maliciosamente.

Mas...se ela apareceu, outras virão!

Sim, outras virão. E nenhuma ficará. Você afastará todas, assim como fez com ela.


Não...alguém vai me amar...

Ninguém te amará. Seu fardo é esse e seu destino é morrer triste e só.


Não...

Um brinde!

19.4.09

Wicked Memories - Part 4 - The End?

Foi como um flashback das partes importantes de sua vida. "Você vê sua vida passar diante dos olhos". Olhou o relógio. 3:47. Os olhos estavam pesados. Mal conseguia respirar. Já não chorava mais. Já não sentia mais dor. Fechou os olhos. Sabia que era o fim. Implorava que fosse. Balbuciou.
"Eu ainda te amo. Você nunca fez nada, e eu sei que vou continuar te amando...aonde estiver."
Dormiu. Esperando que fosse eterno.
Mas sonhou.

18.4.09

Wicked Memories - Part 3 - Hopeless

Já doía demais agora. Ele só queria esquecer e jamais lembrar. E mesmo com tudo aquilo, não se lembrava de alguma vez ter sentido tanto frio na vida. A garrafa jazia vazia ao seu lado. Ele a deixou lá. Não sabe o porquê.
A dor era quase insuportável e ele não queria mais.
Não que importasse.
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Ele passou no vestibular. Isso o aliviou. ele seriamente pensou que não conseguiria. e nas consequências disso.
Isso acalmou os ânimos por um tempo. Foi a semana que ele mais gostou de ficar em casa.
Não pensava mais em vida nova. Ou novos amigos. Não tinha esperanças suficientes para isso, e decidiu gastá-las em algo que valesse à pena. Mas para isso tinha que falar com outras pessoas.
Seus quatro principais amigos, dos sete que tinha, conseguiam mantê-lo sobrevivendo. Mas para viver, ele sabia o que tinha que acontecer. Só o que realmente o derrubou poderia levantar. Amor. E era nisso que ele ia apostar tudo. Quando e se chegasse a hora.

Conversando ele conheceu pessoas a quem concedeu o dom da dúvida. Sustentando isso com uma frágil linha.
E foi conversando que ele a conheceu.
Já havia gostado dela. Não só por sua beleza, mas também por sua sobriedade, uma certa tristeza e muita introspecção. No entanto foi conversando com ela que ele se apaixonou. E não apenas por seus gostos serem parecidos, mas por que ela era inteligente, divertida, inspiradora, sagaz, e absurdamente profunda. Ele não só estava apaixonado, como também a admirava e via ela como uma peça única e de inestimável valor.
Ele não falou logo. Ele esperou. E apostou o último suspiro, a última batida de esperança nisso. Um dia, com uma apreensão absurda, ele resolveu falar. Se sim, provavelmente ele pularia tão alto quanto pudesse e beijaria cada criança que nascesse naquele dia. Se não, já estava acostumado a decepções, sorriria, a beijaria no rosto, lhe desejaria uma vida feliz e se recolheria a sua insignificância.
Mas não ocorreu um. Tampouco o outro. Ela acabou dizendo algo que lhe soou como "é possível". Assim, dando-o algo de que não precisava: uma ressuscitação na esperança.

Após isso uma série de eventos sucedeu-se fazendo-a excessivamente mal. E ele ficou junto. E tudo que ela sentia, ele sentia em dobro. E tudo que ela chorava, embora não quisesse admitir, ele chorava em dobro. E cada vez que lia o blog dela, ele caia aos prantos. De puro ódio. Ódio de si mesmo. Por amá-la tanto e não ser capaz de ajudá-la.
Continuar o mesmo inútil que sempre foi.
Então chegou o dia. "Esta é uma batalha perdida".
Ele tentou ser forte e parecer confiante. Mas por dentro foi como se alguém entrasse no quarto da esperança, já então bastante debilitada, e desse seis tiros nela. Ele ficou tonto. Não conseguiu dormir à noite.
Aguentou vários dias. E após várias noites de insônia, ele, um morto-vivo, acabou por tomar 4 cartelas de 10 comprimidos de um hipnótico genérico e meia garrafa de vodka.

17.4.09

Wicked Memories - Part 2 - Same Mistakes

Meia-hora se passou. Provavelmente mais. Ele decide pegar o resto dos comprimidos. Ao ficar sentado, sente algo cair sobre suas pernas. Eram lágrimas. Centenas delas. Ele tenta pegar a caixa, mas tudo que alcança é a garrafa. Ele dá outro gole. Grande. E se afunda novamente.
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Nova escola. Novas pessoas. Nova vida.
Mesmos erros.
Ele acabou encontrando novos e bons amigos. Mas não ia se arriscar de novo. Testava-os. Sutilmente e durante muito tempo. Passaram. Ele ficou feliz. Parou de testar.
Mesmos erros.
Outros chegaram. Eram seus "amigos". E por trás mentiram, inventaram, manipularam. Traíram.
"Eles estão te usando. Acorda". Ele acordou. E viu o que realmente ocorria. Ele se fechou. Parou de confiar. Parou de acreditar. Parou de amar.
Já não tinha encontrado ninguém. Nem de longe sequer parecido com o que sentiu por ela.
E ainda quando à sua casa chegava, sua crença de auto-inutilidade só aumentava.
E a esperança já só emitia um bipe no medidor. E respirava graças ao boca-a-boca de quatro pessoas.

16.4.09

Wicked Memories - Part 1 - Beginning

Totalmente firmado em fatos reais, o conto a seguir se estenderá em 4 ou 5 partes mais um epílogo, que sairão, a partir de hoje, todos os dias até o final.

Aproveitem.
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Não conseguia dormir. Duas cartelas já tinham ido. Resolveu apelar para o álcool. Deu dois goles. Não queria se embriagar. Não hoje. Hoje só queria dormir. Talvez assim esquecesse. Deixou a garrafa no chão, perto do que restara dos comprimidos. Decidiu que se na próxima meia-hora não dormisse, engoliria mais duas cartelas. Talvez assim tudo acabasse mais rápido. E melhor. Deitou na cama e fitou o teto. Nitidamente tudo foi se juntando. E voltando. Ele lutou contra. Já bastava suas lembranças borradas, não precisava das nítidas.
Não adiantou.
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As brigas em casa eram incansáveis e incessantes. Sempre foram. A escola era uma fuga. Sempre foi.
Não que ele tivesse muitos amigos ou que muitos gostassem dele, mas lá algumas vezes ele era tolerado e o seu melhor, reconhecido. Algumas vezes. Bem mais do que em casa.
E tinha eles dois. Ele era a brincadeira, o riso, o jogo, a revista, o amigo. Ela era o livro, o conto, o carinho, a companhia, o amor. Era só pelos dois que o Sol nascia toda manhã, para ele. E, principalmente, por ela.
O primeiro beijo. No corredor escuro do colégio, enquanto a peça terminava na frente. Tudo voltando. O beijo. As caminhadas longas até em casa. As tardes no parque da residência. As horas vendo TV. Ele brincando de cozinhar, ela brincando de comer. A felicidade. As corridas na chuva. Os beijos na chuva. "Eu nunca vou te deixar". "Eu te amo".
A morte do sonho. A quebra da amizade. A ascensão da traição. A queda do amor.
O coma da esperança e o 1º dos últimos sopros de vida.

Em queda semi-livre

Dra. Mar,

Não aconteceu nada de interessante por agora. Nem sei porque estou aqui escrevendo, provavelmente porque não tenho nada melhor para fazer. O que posso dizer? Meu estado psicológico e emocional está que nem a bolsa de valores: após um brevíssimo suspiro e uma ligeira alta, ele despencou vertiginosamente até o mais fundo poço e acabou me deixando numa crise tão avassaladora que me forçou, veja a senhora, a pedir a ajuda de investidores estrangeiros.
Brigo todo dia comigo mesmo. Chutes no saco, arranhões, mordidas na orelha...acabo levando a maior surra, mas no final, ao preço de umas duas costelas e três dentes quebrados, eu venço. Pelo menos é nisso que eu quero acreditar.
Voltei a beber. Provavelmente duas vezes mais que antes. Antes eu bebia até não me reconhecer mais no espelho, agora eu não reconheço nem o espelho. O que não significa nem um pouco que agora eu esqueça alguma coisa. Continua a mesma merda.
Estou largando pouco a pouco a maioria dos meus amigos. Eles são bons demais para mim e não merecem nem 0,5% do que eu faço. A vida deles é bem melhor sem a minha interferência. A vida de qualquer um é melhor sem a minha interferência.
Aquele que tinha acabado de começar a namorar, lembra? Fiquei bem feliz com isso (obviamente não demonstrei). Bem, ele terminou. Disse seus motivos, mas no fundo provavelmente a culpa é minha. Essa sombra que eu sou, pairando em cima deles, nunca traz bons pensamentos ou julgamentos.
Ainda mantenho minha capa e máscara. Muito bem até. Mas já não vejo utilidade para isso. Não vejo mais objetivo em manter a farsa nauseabunda que sou.

Sim, doutora, eu estou no limite.

Estou a meio passo de desistir. Desistir de mim, dos meus amigos, dos meus ídolos, de todos. Desistir da vida, da felicidade, da esperança, do hoje, do amanhã, de tudo. Até da senhora.
Ando fazendo as coisas maquinalmente, até mesmo as piadas. Faço sem motivo, sem sentido, sem gosto, sem nenhuma vontade de continuar fazendo. Mas continuo. Por que, a senhora pergunta? Porque é preciso. Porque...
Não, não é preciso. Nada do que eu faço é necessário, nada tem sequer a mínima relevância. Não faz a menor diferença a minha existência para qualquer um. Eu não trago nada, eu não dou nada.
Então porque insisto, doutora? Porque eu continuo aqui? Eu não faço nada de especial. Nada. E olha que eu já tentei fazer tanta coisa...
Eu desenho, mas não sou nem um pouco inovador, sequer original.
Eu toco, mas tão miseravelmente quanto eu.
Eu sou inteligente, mas metade das pessoas que eu conheço me fazem parecer um rato num labirinto.
Eu jogo alguma coisa, mas um tetraplégico faz melhor só com a cabeça do que eu com o corpo todo.
Eu sou feio, chato, egoísta, imoral, desinteressante e uma porção de outras características desagradáveis.
Doutora, falta meio passo. E porque eu não escorrego? Acho que é porque eu estou esperando. Sei lá o que. Só estou esperando. Talvez alguém, talvez alguma coisa que me torne alguém útil.

Doutora, eu não acredito em milagres, mas eu desejo muito que alguém me prove que eu estou errado.
Que me mande um sinal.
Send me an angel.

O abismo é grande e eu não faço ideia se tem fundo.
Eu só queria, uma vez, um lampejo sólido de esperança.
A senhora tem algum aí, doutora? Alguém aí tem?

Porfavor...só um...

12.4.09

Tudo com que me importo...

Dra. Mar,

Outro dia diante de nós e tudo esta pronto para o show
Através da terra do mistério todos estão com seus próprios sonhos
Às vezes fica mais difícil ver eles se juntarem...

E eu estou aqui, bem distante
Há centenas de milhas e oceanos dela
Sentindo a necessidade de gritar alto só pra ela saber:

Que ela é tudo com o que me importo e também é tudo o que eu preciso

Em breve eu estarei de volta e eu sei que é difícil amar um homem assim
Sempre no limite de tudo e sempre sem tempo pra nada
Mas uma coisa eu sei com certeza
e quero que ela também saiba

Que ela é tudo com o que me importo e é só o que eu preciso.

Já está acostumada com coisas que não compreende doutora?

*Baseado na música All I Care for - Gotthard.

10.4.09

Ovos de Páscoa e Resoluções

Dra. Mar,

Hoje é sexta, paixão de Cristo, esse feriado que antecede a Páscoa. Coelhos, ovos de chocolate, almoço em família...todas essas coisas. Odeio a Páscoa. Não só a Páscoa como todos os feriados santos. Não, eu não excluo o natal. Deveríamos ter uma consulta hoje e eu sei que a senhora deve estar puta por eu ter ligado 14 vezes para sua casa, ter mandado 26 mensagens de texto para o seu celular e deixar 7 mensagens na sua caixa postal. Eu queria muito ter esta consulta hoje, porque a nossa última consulta me deu muito no que pensar e eu acho que a senhora não queria isso...

Doutora, eu odeio feriados santos e esse só fez aumentar o ódio porque me privou de sua consulta. Não, eu não estava com saudade da senhora, não fique animada, no entanto sua consulta me manteria longe de alguns problemas que eu realmente queria passar longe. Veja, como em todo feriado significativo, minha família resolveu ficar em casa, e como em todo feriado minha mãe resolveu fazer algo especial.
Ela fez bacalhau. E como sempre ela reclamou de estar cozinhando e ter que cuidar do resto da casa, como sempre meu pai arrumou alguma coisa para poder jogar na minha cara o quão inútil eu sou para essa família e como sempre meu irmão conseguiu ser tão desagradável quanto ele sempre é. Viva os chocolates!

Também queria ter uma conversinha sobre nossa última consulta. Sei que pareceu que finalmente estava curado (de sei lá qual a doença que a senhora afirma que eu tenha), mas, como eu disse, eu pensei MUITO depois de nossa consulta e essas duas semanas sem post foram um reflexo disso. O fato é que, como a senhora sabe, eu estou amando (ohhhhh!!) e, como a senhora também sabe, não sou correspondido (ohhhhh!!), e essas semanas foram o tempo que levei analisando e digerindo a situação. Ao longo delas pude pensar bastante sobre tudo e fatos foram-me jogados na cara. Acabei sabendo que um amigo meu vai fazer um ano de namoro e outro que, diga-se de passagem, eu nunca pensei nessa possibilidade, está namorando também. Com isso, eu acabei relembrando aquele sonho que tive certa vez. Aquele que eu nunca consegui esquecer. E para completar comecei a rever os episódios-chave daquela série que a senhora odeia que eu veja.
Conclusão: Estou de volta, com uma excessão (que a senhora decide se é melhora ou piora), vou dar um tempo, à mim e aos meus amigos, para curtir e aproveitar a vida, do meu jeito obviamente. Após esse tempo vou completar o ciclo e terminar a fase 4, deixando completamente essa existência e me tornando o meu ídolo completamente, ou pior. É doutora, aproveite a senhora também. Ah, vendo o último episódio lançado, me surgiu uma pergunta e se faz necessário uma resposta:

Viver triste é menos mal do que morrer disso?

Quando eu arranjar uma resposta isso pode refletir de duas maneiras: ou eu paro de ir às consultas ou a senhora me procura na seção "suicídios" do jornal. (existe isso??)
Rááá, agora surge outra pergunta: que resposta é melhor?

28.3.09

Anos Vazios no Teatro dos Sonhos.

Dra. Mar,

Eu sou daquele tipo de cara sobre o qual você ouve falar por aí. Do tipo que abandona a família por um motivo qualquer. É triste, mas a verdade é que nenhum dos dois percebeu os sinais. E eu nunca disse uma palavra, pois não poderia deixar para outro dia.

- Leve-me em direção à praia - eu disse. - Enterre-me na areia. Conduza-me sobre a água. E talvez você compreenda.

Tomou o último gole e pediu mais uma dose antes de continuar.

- Sabe, cara, uma vez que a pedra sob a qual você está rastejando for retirada de cima de seus ombros e a nuvem preta sobre você desaparecer, o barulho que você ouvirá será o desmoronar destes anos vazios.

Levou um tempo até eu digerir a informação. Mas o fiz.

- Ela não é uma tipo de garota sobre a qual você ouve falar. Ela nunca... nunca desejará outro. E nunca estará sozinha. Ela me mostrará todos os sinais e me contará tudo. E então virará as costas e irá embora.

Ele não tinha mais o que dizer então se calou, deixando-me lá com aquelas dúvidas corrosivas. Não havia nada que ele pudesse fazer para ajudar-me. Pois ele me compreendia mais do que gostaria de assumir. Mas eventualmente ele virou as costas e foi embora.

Não entendeu, doutora? Tudo bem, não era para você entender mesmo.

Mas eu espero que ela compreenda.

*adaptado da música Hollow years - Dream Theater

Lágrimas e destino

Dra. Mar,

Depois de 3 anos. No escuro. Sozinho. Eu chorei. E não foi uma ou duas lagriminhas escorrendo no canto dos olhos. Chorei como uma criança cujos pais se separaram. Baixinho. Em silêncio. Enxarquei a fronha. Foi todo o acumulado.
A senhora sabe o que isso significa.

Não durmo há duas noites.

Precisamos conversar.

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Sabe, doutora, andei pensando (e certa vez a senhora me disse que talvez esse seja meu problema, pensar demais), a senhora sabe que eu nunca acreditei em destino, mas de vez em quando me pego a pensar se isso não é só uma forma de negar que não tenho controle sobre minha vida.
Agora me diga, qual é o propósito de certas pessoas aparecerem em nossas vidas? Elas vem para nos testar? Nos fazer transpor nossos próprios limites e engrandecer?
Eu, particularmente, acho isso uma baboseira. E das grandes.
Duvido que alguém deseje, conscientemente, sofrer para aprender alguma coisa. Eu preferia passar a vida toda tapado como uma porta do que sofrer como um cão só para ficar mais "sábio".

Eu sou uma pessoa dificil, a senhora sabe melhor do que ninguem, e é igualmente dificil achar alguem que me suporte e que eu goste de verdade. Isso só aconteceu uma vez, digo, eu gostar de alguem de verdade, e a senhora sabe bem como acabou.
Desde então a senhora tem acompanhado minha vida e o progresso que venho tendo graças (como é amargo dizer isso) à senhora e aos poucos amigos que me restaram.
Então me explique porque, raios, ela apareceu na minha vida? Qual o propósito disso?
Eu tava levando bem a minha vida, infeliz e miserável, mas levando bem.
Entenda que isso não é raiva, pelo contrário, nunca me senti tão calmo. Nem nunca tão triste.
Ela gosta de outro. Conto os detalhes semana que vem, mas saiba que eu estou na foça. A senhora nunca me viu assim. A última vez foi pouco antes de ser encaminhado pra senhora.
Calma, não tô dizendo que vou fazer de novo. Faz muito tempo que abandonei essa idéia.
Mas... a senhora lembra o que aconteceu na 1ª vez que nos encontramos?

"- Então...Yuri, né? Aqui diz que você acabou de se recuperar de uma tentativa de suicídio...quer me falar a respeito?

- Não.

- Eu não posso te ajudar se você não falar comigo.

- E o que te faz pensar que eu preciso de ajuda?

- Bem, você tentou enfiar uma faca no coração...

- E tu acha que consegue acertar?

- O quê?

- O coração. Eu meio que tremo quando vou fazer...

- Então você ainda pensa em se matar?

- Não.

- E o que pretende fazer da vida?

- No momento, tornar a sua um inferno..."

É bem verdade que esse era o único objetivo realmente traçado na minha vida. Mas agora tô pouco me lichando pra ele...
Sabe porque não durmo à noite, doutora? Passo a madrugada tentando me convencer que destino não existe. Tentando crer que se eu me esforçar bastante e fazer tudo direitinho, vai dar certo dessa vez.

Doutora, acho que nunca lhe perguntei... a senhora acredita em destino?

27.3.09

Saudade??!! Foda-se. O Passado passou...

Dra. Mar,

Ela me ligou. Não Ela, só ela. É, aquela mesmo.

- Alô.

- Oi...o Yuri está?

- Quem quer saber?

- Uma amiga....

- Ah, tá difícil...

- Ele não me vê faz um tempo.

- Piorou...

- Quem tá falando?

- É ele.

- Nossa...a voz tá diferente...

- Idade e álcool. Vai falar quem é ou vai querer brincar de "chamado"?

- É a Laise, Yuri...

- ...

- Yuri? Tá aí ainda?

- Nem sei porque...

- Faz quanto tempo? Três anos?

- Três anos e quatro meses.

- Nossa, faz tempo mesmo...

- É, faz. O que tu quer?

- É que eu tava aqui em casa...

- Corta o papo furado. Sabes que eu odeio histórias, principalmente as que não me interessam. Vai direto ao ponto.

- Achei umas fotos e...

- Eu nelas? ?

- É, tá.

- Queima.

- O quê?

- Queima toda e qualquer foto que minha cara feia a pareça do lado da tua. Foi a primeira coisa que eu fiz com as que estavam aqui.

- ...tá, mas eu liguei...

- Pra me encher o saco. Pra variar. Porra, fala logo o que tu quer!

- Eu com saudade...

- Pfff. HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

- Porque tu tá rindo? Eu vi as fotos e bateu uma saudade da gente....

- HAHAHAHA...e depois de três anos? Tá legal, tá legal....e o que foi que aconteceu? Teu pai te expulsou de casa? Tá precisando de dinheiro? Tá presa? Porque pra me ligar depois de tudo, deves estar pior do que eu...

- É só saudade...como assim pior do que tu?

- Nada, não te interessa. Na verdade eu nunca estive tão bem. E se foi pra isso que tu ligou, eu desligando...

- Não, peraí! Eu tava pensando se tu queria comer uma pizza qualquer dia...eu sei que tu adora pizza.

- 1: Não age como se tu me conhecesse. Se me conhecesse não teria ligado.
2: Prefiro comer pizza sozinho. Sobra mais queijo pra mim.

- Eu só queria conversar...botar o papo em dia...

- Olha, por mim, eu já ouvi bastante a tua voz. E não nem um pouco interessado na tua vida. Aliás, só queria saber porque tu ainda não morreu, mas enfim....

- Poxa, Yuri, não fala assim. Vais querer me dizer que não gosta mais nem um pouquinho de mim?

- Gostava mais do carapanã que matei no meu braço...

- ...mas eu ainda te amo...

- Hein? Me am...HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA. Caralho, isso foi MUITO hilário...

- Você mudou...

- E muito. Agora presta atenção no que eu vou dizer: Eu encontrei a mulher da minha vida, o passado é história e não existe mais como referência. Se quiser me encontrar, ótimo, sabes onde eu moro. Por mim fica até melhor pra esconder o corpo...

- Você tá namorando??!!

- Depende do ponto de vista...

- Não, não tá. Vem aqui em casa a gente bate um papo depois sai, ou não...

- Olha, não quero nem saber porque tu me ligou e eu até ia aí pra te sodomizar com um tubo PVC, mas pelo que eu sei você tá que nem um butijão de gás e isso é brochante. Uma ultima coisinha: FODA-SE!!

É, doutora, e a senhora ainda diz que fantasmas não existem, que é coisa da minha cabeça...

25.3.09

Ressurgindo das cinzas, ela, a esperança!

Dra. Mar,

Cheguei em casa e bati a porta. Meu irmão se levantou e quando ia perguntar o que acontecia pegou um tapa na orelha. Minha mãe ameaçou alguma coisa que não ouvi porque bati a porta do quarto.
Arremessei a mochila e a régua "T"violentamente contra a parede. Foda-se se quebrou. Sentei na beira da cama e refiz meus votos, que a senhora tanto conhece, milhares de vezes: "Nunca mais vou chorar, nunca mais vou chorar....".
Não chorei, mas a um preço meio caro. Rasguei todos os livros que encontrei (a maioria do meu irmão), revirei toda a cama e rasguei os lençois. Chutei o guarda roupa até meu pé ficar dormente e num ataque de fúria rasguei alguns gibis que estavam na prateleira.
Ao me dar conta do que fazia, e ouvir os gritos da minha mãe pelo lado de fora, destranquei a porta do quarto e saí.

- Eu vou pagar tudo....só me dá um momento... - disse à minha mãe, que ao ver meu rosto e o quarto, apenas sussurrou um "Tá..." quase inaudível.

Fui até uma caixa na cozinha. Lá estava o que eu precisava. Peguei uma garrafa de Old Eigth que estava mais ou menos pela metade, abri e joguei a tampa na pia. Saí dando goles direto do gargalo. Não tava com o menor saco para cerimônias. Passei pela minha mãe e liguei o computador.

Sim, doutora, eu contei pra ela. Não, ela não disse que não. Mas também não disse que sim, e é isso que tá me consumindo. Se ela tivesse dito "não, eu te odeio, tu é ridículo e eu preferia ficar com um rato de lixão do que contigo", beleza, teria a certeza de que ela não queria nada, ficava uns 365 dias chorando que nem um bebê e definhava até a morte, mas teria certeza.
Agora, como ela disse, não com essas palavras mas foi como entendi, "Há uma possibilidade nada remota de eu ficar contigo" isso fica me dilacerando por dentro, porque há muito que não estou acostumado em ter esperança.
É isso que a senhora ouviu, estou com esperança. Eu tenho certeza que a senhora diria "mas porque? Tu não já tinha desistido de tudo e todos?". E tinha mesmo, afinal nem terapeutas estão se salvando, mas eu ainda não tinha conhecido ela....ah, já lhe contei esta história e mesmo que sua memória seja pior do que a da formiga que acabei de pisar, a senhora faz anotações.

A garrafa de Old Eigth acabou. Comecei a beber no começo deste relato. Ainda não estou bêbado, mas pretendo ficar. Completamente. Estou puto porque 1/3 de uma garrafa de whisky não me deixou porre. Vou pegar uma de vodka agora. Cheia. Não quero ter de me levantar de novo. Minhas mãos e cabeça doem. Soquei o espelho três vezes e dei com a cabeça duas enquanto passava por ele. O teclado tem algum sangue. Só quero beber até esquecer o quão miserável eu sou.

Mas ainda tenho esperança.

Amanhã vai ser um ÓTIMO dia....

24.3.09

[hipocrisia mod on] Bem Vindos! (tem hífen?)

A ideia surgiu depois de ler obsessivamente o blog do psicopata enrustido, que eu não vou colocar o link para que qualquer coisa que eu plagie fique como sendo minha criação.
Mostrei o dito cujo para minha terapeuta, dos dois jeitos que a ambiguidade propõe. Há poucos dias ela leu, achou um pouco agressivo e muito engraçado....sim, ela comparou a mim e me perguntou porque eu não fazia o mesmo.
Chamei ela de idiota sem memória e perguntei se ela já tinha se esquecido em como sou ruim em inventar histórias, e que por causa disso quase não passo no vestibular. Ou ela achava que aquelas histórias eram reais?
Ela disse, com a doçura de sempre, que o doido complexado era eu e que ela sabia perfeitamente que aquilo era ficção, mas que a ideia de colocar minhas ideias e dia-a-dia num blog era muito interessante e até eficiente no meu tratamento.
Claro que até ela riu quando falou isso, mas pensando bem, não vai tomar muito do meu tempo ocioso colocar qualquer merda aqui.
Perguntei pra ela se ela ia ler o blog. Ela disse, com a doçura de sempre, que jamais ia perder o precioso tempo comigo se não a estivesse pagando, e que ela já lutava pra me esquecer após cada sessão, porque iria procurar coisas sobre mim também na Internet?
Uma maravilha de mulher. Sinceridade à flor da pele que me faz ter vontade de estripá-la com uma faca de plástico.
Já que ela não vai ler, acho que seria meio estúpido colocar "Doutora," no início de cada post. Além de estúpido, um plágio mais que descarado. Logo vou colocar "Dra. Mar," porque não tenho ideias próprias e minha criatividade é limitada. E além disso tenho certeza que sendo a crápula maquiavélica e sem escrúpulos ela é, vai adorar esse infla-ego de papel invertido. E não coloquei nesse porque acabei de pensar nisso, imbecil.
90% de tudo que for postado aqui será verdade, 5% será plágio, 3% será mentira e 2% será invenção. Faça as contas!
Bem, doutora, se está sua curiosidade de morcego sugador de sofrimento bater, venha dar uma olhada. Não será nada pior do que a senhora escuta no consultório.
E qualquer outro que olhar, esse sou eu e não se assuste, a realidade é muito pior.

E um conselho: Algumas pessoas simplesmente esquecem que é direito delas não darem sua opinião, que em alguns casos não faz diferença alguma e além do mais podem piorar qualquer coisa.