Dra. Mar,
Cheguei em casa e bati a porta. Meu irmão se levantou e quando ia perguntar o que acontecia pegou um tapa na orelha. Minha mãe ameaçou alguma coisa que não ouvi porque bati a porta do quarto.
Arremessei a mochila e a régua "T"violentamente contra a parede. Foda-se se quebrou. Sentei na beira da cama e refiz meus votos, que a senhora tanto conhece, milhares de vezes: "Nunca mais vou chorar, nunca mais vou chorar....".
Não chorei, mas a um preço meio caro. Rasguei todos os livros que encontrei (a maioria do meu irmão), revirei toda a cama e rasguei os lençois. Chutei o guarda roupa até meu pé ficar dormente e num ataque de fúria rasguei alguns gibis que estavam na prateleira.
Ao me dar conta do que fazia, e ouvir os gritos da minha mãe pelo lado de fora, destranquei a porta do quarto e saí.
- Eu vou pagar tudo....só me dá um momento... - disse à minha mãe, que ao ver meu rosto e o quarto, apenas sussurrou um "Tá..." quase inaudível.
Fui até uma caixa na cozinha. Lá estava o que eu precisava. Peguei uma garrafa de Old Eigth que estava mais ou menos pela metade, abri e joguei a tampa na pia. Saí dando goles direto do gargalo. Não tava com o menor saco para cerimônias. Passei pela minha mãe e liguei o computador.
Sim, doutora, eu contei pra ela. Não, ela não disse que não. Mas também não disse que sim, e é isso que tá me consumindo. Se ela tivesse dito "não, eu te odeio, tu é ridículo e eu preferia ficar com um rato de lixão do que contigo", beleza, teria a certeza de que ela não queria nada, ficava uns 365 dias chorando que nem um bebê e definhava até a morte, mas teria certeza.
Agora, como ela disse, não com essas palavras mas foi como entendi, "Há uma possibilidade nada remota de eu ficar contigo" isso fica me dilacerando por dentro, porque há muito que não estou acostumado em ter esperança.
É isso que a senhora ouviu, estou com esperança. Eu tenho certeza que a senhora diria "mas porque? Tu não já tinha desistido de tudo e todos?". E tinha mesmo, afinal nem terapeutas estão se salvando, mas eu ainda não tinha conhecido ela....ah, já lhe contei esta história e mesmo que sua memória seja pior do que a da formiga que acabei de pisar, a senhora faz anotações.
A garrafa de Old Eigth acabou. Comecei a beber no começo deste relato. Ainda não estou bêbado, mas pretendo ficar. Completamente. Estou puto porque 1/3 de uma garrafa de whisky não me deixou porre. Vou pegar uma de vodka agora. Cheia. Não quero ter de me levantar de novo. Minhas mãos e cabeça doem. Soquei o espelho três vezes e dei com a cabeça duas enquanto passava por ele. O teclado tem algum sangue. Só quero beber até esquecer o quão miserável eu sou.
Mas ainda tenho esperança.
Amanhã vai ser um ÓTIMO dia....
25.3.09
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2 comentários:
O.O
chegue vivo hoje se puder...
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