28.3.09

Lágrimas e destino

Dra. Mar,

Depois de 3 anos. No escuro. Sozinho. Eu chorei. E não foi uma ou duas lagriminhas escorrendo no canto dos olhos. Chorei como uma criança cujos pais se separaram. Baixinho. Em silêncio. Enxarquei a fronha. Foi todo o acumulado.
A senhora sabe o que isso significa.

Não durmo há duas noites.

Precisamos conversar.

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Sabe, doutora, andei pensando (e certa vez a senhora me disse que talvez esse seja meu problema, pensar demais), a senhora sabe que eu nunca acreditei em destino, mas de vez em quando me pego a pensar se isso não é só uma forma de negar que não tenho controle sobre minha vida.
Agora me diga, qual é o propósito de certas pessoas aparecerem em nossas vidas? Elas vem para nos testar? Nos fazer transpor nossos próprios limites e engrandecer?
Eu, particularmente, acho isso uma baboseira. E das grandes.
Duvido que alguém deseje, conscientemente, sofrer para aprender alguma coisa. Eu preferia passar a vida toda tapado como uma porta do que sofrer como um cão só para ficar mais "sábio".

Eu sou uma pessoa dificil, a senhora sabe melhor do que ninguem, e é igualmente dificil achar alguem que me suporte e que eu goste de verdade. Isso só aconteceu uma vez, digo, eu gostar de alguem de verdade, e a senhora sabe bem como acabou.
Desde então a senhora tem acompanhado minha vida e o progresso que venho tendo graças (como é amargo dizer isso) à senhora e aos poucos amigos que me restaram.
Então me explique porque, raios, ela apareceu na minha vida? Qual o propósito disso?
Eu tava levando bem a minha vida, infeliz e miserável, mas levando bem.
Entenda que isso não é raiva, pelo contrário, nunca me senti tão calmo. Nem nunca tão triste.
Ela gosta de outro. Conto os detalhes semana que vem, mas saiba que eu estou na foça. A senhora nunca me viu assim. A última vez foi pouco antes de ser encaminhado pra senhora.
Calma, não tô dizendo que vou fazer de novo. Faz muito tempo que abandonei essa idéia.
Mas... a senhora lembra o que aconteceu na 1ª vez que nos encontramos?

"- Então...Yuri, né? Aqui diz que você acabou de se recuperar de uma tentativa de suicídio...quer me falar a respeito?

- Não.

- Eu não posso te ajudar se você não falar comigo.

- E o que te faz pensar que eu preciso de ajuda?

- Bem, você tentou enfiar uma faca no coração...

- E tu acha que consegue acertar?

- O quê?

- O coração. Eu meio que tremo quando vou fazer...

- Então você ainda pensa em se matar?

- Não.

- E o que pretende fazer da vida?

- No momento, tornar a sua um inferno..."

É bem verdade que esse era o único objetivo realmente traçado na minha vida. Mas agora tô pouco me lichando pra ele...
Sabe porque não durmo à noite, doutora? Passo a madrugada tentando me convencer que destino não existe. Tentando crer que se eu me esforçar bastante e fazer tudo direitinho, vai dar certo dessa vez.

Doutora, acho que nunca lhe perguntei... a senhora acredita em destino?

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