21.4.09

Wicked Memories - Epilogue - Question

Abriu os olhos lentamente. Estava cansado. Mas não com sono. Olhou no relógio. 6:28. Dormiu pouco. Mas dormiu. Queria ter dormido mais. Bem mais.
Lembrava de tudo perfeitamente. E sabia que continuaria lembrando.
Tudo podia ter terminado. Deveria ter terminado. Mas ele nunca consegue aquilo que realmente quer. Nunca.

Estava de volta. Ele. As lembranças. Ela.
Então era isso. Tinha que resolver.
"É menos mal viver triste ou morrer disso?"
Não tinha mais como. Iria resolver.
Podia viver. Mas não tinha certeza se ainda tinha forças para aguentar. Ou coragem para ver o sonho se tornando realidade.
Podia morrer. Mas não tinha certeza se queria por a prova suas crenças. E descrenças.

Saiu. Foi comprar mais remédios. Três caixas dessa vez.

E um gato.

20.4.09

Wicked Memories - Part 5 - Dreaming

Teve dois sonhos. O primeiro com ela.
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Estava sentado à margem do rio. Observava com o olhar triste. Ribeirinhos passavam em canoas e barcos. Admirava as garças. Livres. Sem preocupação.
Ouviu passos. Se virou. Era ela. Esboçava um sorriso.
Tenho que te falar uma coisa. Se sentou ao lado dele. Ele olhou para baixo. E rapidamente olhou pro céu. Não conseguia mais fitar seu reflexo.
Eu não te amo. Ele sabia. Mas eu tenho certeza que me amas. Ele também. E sei que é muito. Ela tinha razão. Pra variar. Eu gosto de você. Um pouco. Um pouco. E eu pensei, que se eu desse uma chance... Sim? ...talvez eu pudesse vir a gostar mais. Eu acabei tendo certeza que é muito difícil achar alguém que possa me amar tanto assim. Será...? Enfim, estou te dando uma chance. Não desperdiça. Ele a abraçou forte e desejou, rezou, que aquilo não fosse um sonho. E se fosse, que nunca acord...
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Entreabriu um olho e voltou a dormir. O segundo sonho era igual a outro que já havia tido uma vez. Mas com algo diferente.
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Estava sentado. O cômodo era totalmente branco. E totalmente vazio. Sem portas ou janelas. Olhou pra frente. Vazio. Olhou pra trás. Vazio. Olhou pra frente de novo. Um espelho.
Se levantou e foi em direção à ele. Era um espelho comum. Apenas seu reflexo aparecia do outro lado. Não gostava dele. Fechou os olhos e virou o rosto. Sentiu vontade de abri-los. Ao fazê-lo, a sala já não era branca, mas negra. E apenas os contornos do espelho ainda eram visíveis. Mas no reflexo começou a distinguir uma mobília. E na penumbra pode ver os contornos de um homem. Ele segurava um copo de uísque. E abaixo de sua mão, um caderno. Não, não era um caderno, mas uma agenda. Marcava três nomes. Riscados. Um vento bateu e folheou a agenda. Em branco. Ao fundo tocava um blues. Conhecido. Melancólico. A noite se tornou mais clara e iluminou o rosto do homem, que sentava à poltrona. Era ele. Mas mais velho, como com 50 anos.

Um brinde!


E o que estamos comemorando?

Não é comemoração. É pesar.


Pelo quê?

O último se foi.


Morreu?

Não. Desistiu.


E o que está fazendo sozinho, no escuro?

Hahahaha...estou esperando...


O quê?

Pergunta errada.


Quem, então?

Você.
Sorriu maliciosamente.

Mas...se ela apareceu, outras virão!

Sim, outras virão. E nenhuma ficará. Você afastará todas, assim como fez com ela.


Não...alguém vai me amar...

Ninguém te amará. Seu fardo é esse e seu destino é morrer triste e só.


Não...

Um brinde!

19.4.09

Wicked Memories - Part 4 - The End?

Foi como um flashback das partes importantes de sua vida. "Você vê sua vida passar diante dos olhos". Olhou o relógio. 3:47. Os olhos estavam pesados. Mal conseguia respirar. Já não chorava mais. Já não sentia mais dor. Fechou os olhos. Sabia que era o fim. Implorava que fosse. Balbuciou.
"Eu ainda te amo. Você nunca fez nada, e eu sei que vou continuar te amando...aonde estiver."
Dormiu. Esperando que fosse eterno.
Mas sonhou.

18.4.09

Wicked Memories - Part 3 - Hopeless

Já doía demais agora. Ele só queria esquecer e jamais lembrar. E mesmo com tudo aquilo, não se lembrava de alguma vez ter sentido tanto frio na vida. A garrafa jazia vazia ao seu lado. Ele a deixou lá. Não sabe o porquê.
A dor era quase insuportável e ele não queria mais.
Não que importasse.
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Ele passou no vestibular. Isso o aliviou. ele seriamente pensou que não conseguiria. e nas consequências disso.
Isso acalmou os ânimos por um tempo. Foi a semana que ele mais gostou de ficar em casa.
Não pensava mais em vida nova. Ou novos amigos. Não tinha esperanças suficientes para isso, e decidiu gastá-las em algo que valesse à pena. Mas para isso tinha que falar com outras pessoas.
Seus quatro principais amigos, dos sete que tinha, conseguiam mantê-lo sobrevivendo. Mas para viver, ele sabia o que tinha que acontecer. Só o que realmente o derrubou poderia levantar. Amor. E era nisso que ele ia apostar tudo. Quando e se chegasse a hora.

Conversando ele conheceu pessoas a quem concedeu o dom da dúvida. Sustentando isso com uma frágil linha.
E foi conversando que ele a conheceu.
Já havia gostado dela. Não só por sua beleza, mas também por sua sobriedade, uma certa tristeza e muita introspecção. No entanto foi conversando com ela que ele se apaixonou. E não apenas por seus gostos serem parecidos, mas por que ela era inteligente, divertida, inspiradora, sagaz, e absurdamente profunda. Ele não só estava apaixonado, como também a admirava e via ela como uma peça única e de inestimável valor.
Ele não falou logo. Ele esperou. E apostou o último suspiro, a última batida de esperança nisso. Um dia, com uma apreensão absurda, ele resolveu falar. Se sim, provavelmente ele pularia tão alto quanto pudesse e beijaria cada criança que nascesse naquele dia. Se não, já estava acostumado a decepções, sorriria, a beijaria no rosto, lhe desejaria uma vida feliz e se recolheria a sua insignificância.
Mas não ocorreu um. Tampouco o outro. Ela acabou dizendo algo que lhe soou como "é possível". Assim, dando-o algo de que não precisava: uma ressuscitação na esperança.

Após isso uma série de eventos sucedeu-se fazendo-a excessivamente mal. E ele ficou junto. E tudo que ela sentia, ele sentia em dobro. E tudo que ela chorava, embora não quisesse admitir, ele chorava em dobro. E cada vez que lia o blog dela, ele caia aos prantos. De puro ódio. Ódio de si mesmo. Por amá-la tanto e não ser capaz de ajudá-la.
Continuar o mesmo inútil que sempre foi.
Então chegou o dia. "Esta é uma batalha perdida".
Ele tentou ser forte e parecer confiante. Mas por dentro foi como se alguém entrasse no quarto da esperança, já então bastante debilitada, e desse seis tiros nela. Ele ficou tonto. Não conseguiu dormir à noite.
Aguentou vários dias. E após várias noites de insônia, ele, um morto-vivo, acabou por tomar 4 cartelas de 10 comprimidos de um hipnótico genérico e meia garrafa de vodka.

17.4.09

Wicked Memories - Part 2 - Same Mistakes

Meia-hora se passou. Provavelmente mais. Ele decide pegar o resto dos comprimidos. Ao ficar sentado, sente algo cair sobre suas pernas. Eram lágrimas. Centenas delas. Ele tenta pegar a caixa, mas tudo que alcança é a garrafa. Ele dá outro gole. Grande. E se afunda novamente.
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Nova escola. Novas pessoas. Nova vida.
Mesmos erros.
Ele acabou encontrando novos e bons amigos. Mas não ia se arriscar de novo. Testava-os. Sutilmente e durante muito tempo. Passaram. Ele ficou feliz. Parou de testar.
Mesmos erros.
Outros chegaram. Eram seus "amigos". E por trás mentiram, inventaram, manipularam. Traíram.
"Eles estão te usando. Acorda". Ele acordou. E viu o que realmente ocorria. Ele se fechou. Parou de confiar. Parou de acreditar. Parou de amar.
Já não tinha encontrado ninguém. Nem de longe sequer parecido com o que sentiu por ela.
E ainda quando à sua casa chegava, sua crença de auto-inutilidade só aumentava.
E a esperança já só emitia um bipe no medidor. E respirava graças ao boca-a-boca de quatro pessoas.

16.4.09

Wicked Memories - Part 1 - Beginning

Totalmente firmado em fatos reais, o conto a seguir se estenderá em 4 ou 5 partes mais um epílogo, que sairão, a partir de hoje, todos os dias até o final.

Aproveitem.
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Não conseguia dormir. Duas cartelas já tinham ido. Resolveu apelar para o álcool. Deu dois goles. Não queria se embriagar. Não hoje. Hoje só queria dormir. Talvez assim esquecesse. Deixou a garrafa no chão, perto do que restara dos comprimidos. Decidiu que se na próxima meia-hora não dormisse, engoliria mais duas cartelas. Talvez assim tudo acabasse mais rápido. E melhor. Deitou na cama e fitou o teto. Nitidamente tudo foi se juntando. E voltando. Ele lutou contra. Já bastava suas lembranças borradas, não precisava das nítidas.
Não adiantou.
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As brigas em casa eram incansáveis e incessantes. Sempre foram. A escola era uma fuga. Sempre foi.
Não que ele tivesse muitos amigos ou que muitos gostassem dele, mas lá algumas vezes ele era tolerado e o seu melhor, reconhecido. Algumas vezes. Bem mais do que em casa.
E tinha eles dois. Ele era a brincadeira, o riso, o jogo, a revista, o amigo. Ela era o livro, o conto, o carinho, a companhia, o amor. Era só pelos dois que o Sol nascia toda manhã, para ele. E, principalmente, por ela.
O primeiro beijo. No corredor escuro do colégio, enquanto a peça terminava na frente. Tudo voltando. O beijo. As caminhadas longas até em casa. As tardes no parque da residência. As horas vendo TV. Ele brincando de cozinhar, ela brincando de comer. A felicidade. As corridas na chuva. Os beijos na chuva. "Eu nunca vou te deixar". "Eu te amo".
A morte do sonho. A quebra da amizade. A ascensão da traição. A queda do amor.
O coma da esperança e o 1º dos últimos sopros de vida.

Em queda semi-livre

Dra. Mar,

Não aconteceu nada de interessante por agora. Nem sei porque estou aqui escrevendo, provavelmente porque não tenho nada melhor para fazer. O que posso dizer? Meu estado psicológico e emocional está que nem a bolsa de valores: após um brevíssimo suspiro e uma ligeira alta, ele despencou vertiginosamente até o mais fundo poço e acabou me deixando numa crise tão avassaladora que me forçou, veja a senhora, a pedir a ajuda de investidores estrangeiros.
Brigo todo dia comigo mesmo. Chutes no saco, arranhões, mordidas na orelha...acabo levando a maior surra, mas no final, ao preço de umas duas costelas e três dentes quebrados, eu venço. Pelo menos é nisso que eu quero acreditar.
Voltei a beber. Provavelmente duas vezes mais que antes. Antes eu bebia até não me reconhecer mais no espelho, agora eu não reconheço nem o espelho. O que não significa nem um pouco que agora eu esqueça alguma coisa. Continua a mesma merda.
Estou largando pouco a pouco a maioria dos meus amigos. Eles são bons demais para mim e não merecem nem 0,5% do que eu faço. A vida deles é bem melhor sem a minha interferência. A vida de qualquer um é melhor sem a minha interferência.
Aquele que tinha acabado de começar a namorar, lembra? Fiquei bem feliz com isso (obviamente não demonstrei). Bem, ele terminou. Disse seus motivos, mas no fundo provavelmente a culpa é minha. Essa sombra que eu sou, pairando em cima deles, nunca traz bons pensamentos ou julgamentos.
Ainda mantenho minha capa e máscara. Muito bem até. Mas já não vejo utilidade para isso. Não vejo mais objetivo em manter a farsa nauseabunda que sou.

Sim, doutora, eu estou no limite.

Estou a meio passo de desistir. Desistir de mim, dos meus amigos, dos meus ídolos, de todos. Desistir da vida, da felicidade, da esperança, do hoje, do amanhã, de tudo. Até da senhora.
Ando fazendo as coisas maquinalmente, até mesmo as piadas. Faço sem motivo, sem sentido, sem gosto, sem nenhuma vontade de continuar fazendo. Mas continuo. Por que, a senhora pergunta? Porque é preciso. Porque...
Não, não é preciso. Nada do que eu faço é necessário, nada tem sequer a mínima relevância. Não faz a menor diferença a minha existência para qualquer um. Eu não trago nada, eu não dou nada.
Então porque insisto, doutora? Porque eu continuo aqui? Eu não faço nada de especial. Nada. E olha que eu já tentei fazer tanta coisa...
Eu desenho, mas não sou nem um pouco inovador, sequer original.
Eu toco, mas tão miseravelmente quanto eu.
Eu sou inteligente, mas metade das pessoas que eu conheço me fazem parecer um rato num labirinto.
Eu jogo alguma coisa, mas um tetraplégico faz melhor só com a cabeça do que eu com o corpo todo.
Eu sou feio, chato, egoísta, imoral, desinteressante e uma porção de outras características desagradáveis.
Doutora, falta meio passo. E porque eu não escorrego? Acho que é porque eu estou esperando. Sei lá o que. Só estou esperando. Talvez alguém, talvez alguma coisa que me torne alguém útil.

Doutora, eu não acredito em milagres, mas eu desejo muito que alguém me prove que eu estou errado.
Que me mande um sinal.
Send me an angel.

O abismo é grande e eu não faço ideia se tem fundo.
Eu só queria, uma vez, um lampejo sólido de esperança.
A senhora tem algum aí, doutora? Alguém aí tem?

Porfavor...só um...

12.4.09

Tudo com que me importo...

Dra. Mar,

Outro dia diante de nós e tudo esta pronto para o show
Através da terra do mistério todos estão com seus próprios sonhos
Às vezes fica mais difícil ver eles se juntarem...

E eu estou aqui, bem distante
Há centenas de milhas e oceanos dela
Sentindo a necessidade de gritar alto só pra ela saber:

Que ela é tudo com o que me importo e também é tudo o que eu preciso

Em breve eu estarei de volta e eu sei que é difícil amar um homem assim
Sempre no limite de tudo e sempre sem tempo pra nada
Mas uma coisa eu sei com certeza
e quero que ela também saiba

Que ela é tudo com o que me importo e é só o que eu preciso.

Já está acostumada com coisas que não compreende doutora?

*Baseado na música All I Care for - Gotthard.

10.4.09

Ovos de Páscoa e Resoluções

Dra. Mar,

Hoje é sexta, paixão de Cristo, esse feriado que antecede a Páscoa. Coelhos, ovos de chocolate, almoço em família...todas essas coisas. Odeio a Páscoa. Não só a Páscoa como todos os feriados santos. Não, eu não excluo o natal. Deveríamos ter uma consulta hoje e eu sei que a senhora deve estar puta por eu ter ligado 14 vezes para sua casa, ter mandado 26 mensagens de texto para o seu celular e deixar 7 mensagens na sua caixa postal. Eu queria muito ter esta consulta hoje, porque a nossa última consulta me deu muito no que pensar e eu acho que a senhora não queria isso...

Doutora, eu odeio feriados santos e esse só fez aumentar o ódio porque me privou de sua consulta. Não, eu não estava com saudade da senhora, não fique animada, no entanto sua consulta me manteria longe de alguns problemas que eu realmente queria passar longe. Veja, como em todo feriado significativo, minha família resolveu ficar em casa, e como em todo feriado minha mãe resolveu fazer algo especial.
Ela fez bacalhau. E como sempre ela reclamou de estar cozinhando e ter que cuidar do resto da casa, como sempre meu pai arrumou alguma coisa para poder jogar na minha cara o quão inútil eu sou para essa família e como sempre meu irmão conseguiu ser tão desagradável quanto ele sempre é. Viva os chocolates!

Também queria ter uma conversinha sobre nossa última consulta. Sei que pareceu que finalmente estava curado (de sei lá qual a doença que a senhora afirma que eu tenha), mas, como eu disse, eu pensei MUITO depois de nossa consulta e essas duas semanas sem post foram um reflexo disso. O fato é que, como a senhora sabe, eu estou amando (ohhhhh!!) e, como a senhora também sabe, não sou correspondido (ohhhhh!!), e essas semanas foram o tempo que levei analisando e digerindo a situação. Ao longo delas pude pensar bastante sobre tudo e fatos foram-me jogados na cara. Acabei sabendo que um amigo meu vai fazer um ano de namoro e outro que, diga-se de passagem, eu nunca pensei nessa possibilidade, está namorando também. Com isso, eu acabei relembrando aquele sonho que tive certa vez. Aquele que eu nunca consegui esquecer. E para completar comecei a rever os episódios-chave daquela série que a senhora odeia que eu veja.
Conclusão: Estou de volta, com uma excessão (que a senhora decide se é melhora ou piora), vou dar um tempo, à mim e aos meus amigos, para curtir e aproveitar a vida, do meu jeito obviamente. Após esse tempo vou completar o ciclo e terminar a fase 4, deixando completamente essa existência e me tornando o meu ídolo completamente, ou pior. É doutora, aproveite a senhora também. Ah, vendo o último episódio lançado, me surgiu uma pergunta e se faz necessário uma resposta:

Viver triste é menos mal do que morrer disso?

Quando eu arranjar uma resposta isso pode refletir de duas maneiras: ou eu paro de ir às consultas ou a senhora me procura na seção "suicídios" do jornal. (existe isso??)
Rááá, agora surge outra pergunta: que resposta é melhor?